A cruz de Caravaca, pela forma - com dois braços horizontais - é típica cruz patriarcal, a denotar sua origem oriental. Foi ao que parece, mesmo orginalmente, um relicário cruciforme, contendo um fragmento do verdadeiro lenho - uma relíquia da Santa Cruz de Cristo. É, assim, uma "Vera Cruz".
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A devoção à Santa Cruz de Caravaca, no santuário homônimo em Múrcia, na Espanha, e em toda a Europa, esteve muito difundida nas Idades Média e Moderna. Também a narrativa legendária sobre seu transporte maravilhoso, ligado à conversão de um taifa mourisco, é tradicional. Grandes santos, como Santa Teresa de Ávila prestaram-lhe devoção, estando a cruz que lhe pertenceu num convento carmelita da Bélgica.
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Caravaca é uma antiga cidade do interior da Espanha. A história de Caravaca, por certo, é formada de episódios ricos que estão registrados; porém, o fato lendário perdurou e a Igreja não abre mão do mágico aparecimento da Cruz de Caravaca, tendo-o como real, verídico e milagroso.
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No ano de 1231, reinava na Espanha o rei Abu Zeyt,
conhecido como Muhammad ben Yaquib. Em Caravaca, na fortaleza maior, Muhammad mantinha prisioneiros,
um grupo de cristãos, suspeitos de tramarem contra os invasores.
Entre o grupo, de aproximadamente quinze pessoas, encontrava-se, incógnito, um sacerdote de nome Gines Perez Chirinos que ministrava aos seus companheiros o conforto da religião.
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Essas práticas foram descobertas pelos guardas
e o fato chegou aos ouvidos de Muhammad que, interessado,
mandou vir à sua presença o religioso prisioneiro, para conhecer as suas atividades e descobrir se estava sendo arquitetada a insurreição.
Várias foram as audiências mantidas com Muhammad, que ficou impressionado com o religioso a ponto de se interessar pela atividade de sacerdote
e o que significava a celebração da Santa Missa.
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Chirinos viu a oportunidade,
não exatamente de melhorar a sua situação de prisioneiro,
mas a de preparar a alma do Rei para uma utópica conversão ao Cristianismo. Certo dia Muhammad, mais paciencioso, pediu a Chirinos que lhe explicasse o mistério da Eucaristia. Chirinos objetou de que não poderia fazer o desejo do Rei, porque não dispunha dos elementos necessários para celebrar o ato sagrado. Muhammad, julgando que Chirinos não desejava satisfazer a sua curiosidade, irritou-se, recomendando severidade no tratamento dos prisioneiros.
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Com o passar dos dias, a curiosidade e talvez o toque espiritual divino,
passaram a preocupar o Rei a ponto de perder a tranquilidade.
Mandou vir, novamente, à sua presença Chirinos que se apresentou em lastimável estado de penúria e sofrimento.
Muhammad, com palavras suaves, tornou a pedir ao sacerdote
que celebrasse a Missa e que fizesse uma relação de tudo quanto necessitaria para o ato. Comovido, Chirinos foi enumerando todos os objetos necessários e pediu um local apropriado; foi escolhido um recanto da fortaleza, próximo à torre, que foi limpo, ordenado e preparado para a instalação de um altar.
Chegando às mão de Chirinos os elementos, foi fácil verificar que haviam sido retirados dos altares das igrejas, resultando, assim, em uma visível profanação.
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Negou-se Chirinos a prosseguir na sua tarefa,
pois, o que havia sido profanado, não poderia servir ao sacrifício.
Muhammad então exigiu de Chirinos o prosseguimento dos preparativos,
sob pena de serem os seus companheiros de cárcere torturados até a morte.
Sem outra alternativa Chirinos prosseguiu.
Chirinos havia montado o altar, preparado o vinho e o pão
e treinado dois companheiros de prisão para servirem como acólitos,
todos devidamente trajados de conformidade com os costumes da Igreja;
o sacerdote estava comovido. O Rei mandou chamar os seus amigos e familiares e se dispôs com grande atenção e emoção a presenciar o ato máximo de uma 'Magia' Cristã. Foi naquele preciso momento de expectativa que Chirinos se deu conta de que havia esquecido de pedir o elemento principal: uma Cruz!
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Notando o nervosismo de Chirinos, e vendo lágrimas em seus olhos,
Muhammad indagou o que estava acontecendo.
Quis saber o que significava a Cruz e por que era imprescindível a presença daquele símbolo.
O local onde se encontravam era iluminado pela luz solar que penetrava através de uma abertura sobre o Altar.
Chirinos vendo frustrado seu trabalho e temendo ser castigado como ameaçara
o Rei,
com palavras confusas e balbuciantes tentou descrever a Cruz.
Muhammad, com o olhar posto na abertura sobre o Altar, apontou com as mãos para ela e com voz embargada pela emoção: "É isso aí, a Cruz ?"
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Chirinos acompanhou o gesto de Muhammad
e viu assomarem pela janela dois anjos luminosos, trazendo em suas mãos
uma Cruz !
A Cruz, que tinha um formato curioso, uma composição da Cruz Latina com Tau, revestida de pedraria, toda de ouro, foi colocada pelos anjos, no seu devido lugar, sobre o Altar. Um dos Anjos disse que a Cruz era parte da Cruz do Calvário. Todos tinham os seus olhares fixos na Cruz e não perceberam como os Anjos desapareceram.
O silêncio era comovente. Chirinos, como possuído por uma força estranha, começou a celebrar. Muhammad, seus familiares e todos os presentes, converteram-se naquele momemto ao Cristianismo. Todos os prisioneiros foram libertados e aquela fortaleza foi transformada em Igreja. Misteriosamente, e isso ninguém sabe, precisamente no dia 14 de Fevereiro de 1934, a Cruz desapareceu.
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Desde sua aparição, sucederam-se inúmeros milagres, fazendo a devoção à Cruz de Caravaca conquistar fiéis no mundo inteiro. Este poderoso amuleto passou a ser adotada também pelos cruzados, templários e missionários como símbolo de proteção. Esotéricos e bruxos também a usam em seus rituais. Com a expansão colonial espanhola, a devoção à Cruz de Caravaca espalhou-se por todo o mundo hispânico, constando ainda ainda que chegou ao Brasil trazida por Martim Afonso de Souza. Grandes divulgadores foram os jesuítas, que a levaram à Alemanha e Polônia, e, provavelmente, às Missões Jesuíticas dos sete povos, onde ainda existe - em São Miguel das Missões - um grande exemplar em pedra, ali conhecido como "Cruz Missioneira".
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A Cruz de Caravaca é eficiente para curar toda classe de doenças como também inúmeras práticas para libertação de feitiços e encantamentos com bençãos e exorcismos. De acordo com a cultura popular e influências diversas, a Cruz de Caravaca pode adquirir outros nomes: Cruz das Missões, Cruz de Lorena, Cruz de Borgonha, Cruz de São Miguel, Cruz Missioneira. O significado continua sendo de proteção e é usada em forma de relíquia peitoral ou pedestal. Os dois braços representam a distinção arquiepiscopal ou patriarcal. Popularmente os dois braços significam fé redobrada.
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