Muita gente procura o centro espírita em busca de uma conversa direta
com os guias espirituais.
Talvez acreditem que, se tiverem oportunidade de conversar,
chorar suas mágoas e defender suas idéias de autopiedade,
os espíritos se mobilizarão para auxiliá-los e destrinchar suas dificuldades
com toda a urgência e facilidade.
Meu Deus, como muitos amigos(as) estão equivocados!
Espírito nenhum resolve problemas de ninguém.
Esse definitivamente não é o objetivo nem o papel dos espíritos,
meu filho(a).
Se porventura você está em busca de uma solução simples
e repentina para seus dramas e desafios,
saiba que os espíritos desconhecem quimera capaz
de cumprir esse intento.
No espiritismo, não se traz o amor de volta;
ensina-se a amar mais e valorizar a vida, os sentimentos e as emoções,
sem pretender controlar os sentimentos alheios
ou transformar o outro em fantoche de nossas emoções desajustadas.
Os espíritos não estão aí para “desmanchar trabalhos” ou feitiçarias;
é dever de cada um renovar os próprios pensamentos,
procurar auxílio terapêutico para educar as emoções
e aprender a viver com maior qualidade.
Até o momento, não encontramos uma varinha mágica
ou uma lâmpada maravilhosa com um gênio
que possa satisfazer anseios e desejos,
resolvendo as questões de meus filhos(as).
O máximo que podemos fazer é apontar certos caminhos
e incentivar meus filhos(as) a caminhar e desenvolver,
seguindo a rota do amor.
Não adianta falar com as entidades
e os guias ou procurar o auxílio dos orixás, como muitos acreditam,
pois tanto a solução como a gênese de todos os problemas
está dentro de você, meu filho.
Ao menos no espiritismo, a função dos espíritos
é maior do que satisfazer caprichos e necessidades imediatas
daqueles que concentram sua visão nas coisas do mundo.
Não podemos perder nosso tempo com lamentações intermináveis
nem com pranto que não produza renovação.
Nosso campo de trabalho é a intimidade do ser humano,
e a cientização de sua capacidade de trabalhar e investir
no lado bom de todas as coisas.
Nada mais.
Tem gente por aí se deixando levar pelas aparências de espiritualidade.
A grande multidão ainda não despertou para as verdades espirituais
e acha-se com os sentidos embriagados e as crenças arraigadas
em formas mesquinhas e irreais de viver a vida espiritual.
Persegue soluções que lhe sejam favoráveis, e, em geral,
tais soluções dizem respeito a questões emocionais ou materiais
que meus filhos(as) não se sentiram capazes de superar.
Ah! Como se enganam quanto à realidade do espírito.
O aprendizado da vida é longo, amplo e exige um esforço mental
de tais proporções que não torna fácil romper com os velhos hábitos
de barganhas espirituais aprendidos com as religiões do passado.
Fazem-se promessas, cumprem-se rituais na esperança
de que os espíritos ou Deus concedam-lhes um favor qualquer
em troca de seus esforços externos,
que presumem sobrepor-se aos valores internos.
Pensamentos assim resultam de uma educação religiosa deficiente
e advêm de hábitos seculares que perduram nos dias atuais
e carecem de uma análise mais profunda.
Os indivíduos que agem com base nessas premissas
evitam reconhecer sua responsabilidade nos acontecimentos
que os atingem e pensam enganar a Deus com seu jeito leviano
e irresponsável de tratar as questões espirituais.
Fatalmente se decepcionam ao constatar que aquilo que queriam
não se realizou e que as focas sublimes da vida
não se dobraram aos seus caprichos pessoais.
Os problemas apresentados pela vida têm endereço certo,
e não há como transferi-los para os espíritos resolverem.
Se determinada luta ou dificuldade chega até você,
compete a você vencê-la.
Na sede de se livrar do processo educativo ministrado pela vida,
meus filhos(as) esperam que , os espíritos, possam isentá-los de seus desafios.
Isso é irreal.
Não detem o poder de transferir de endereço a receita de reeducação
que vem para cada um.
Nenhum espírito minimamente esclarecido
poderá prometer esse tipo de coisa
sem comprometer o aprendizado individual.
Foram chamados pelo Pai para auxiliar meus filhos(as)
apontando o caminho ou a direção mais provável para alcançarem êxito
na construção de sua felicidade.
Vejam como exemplo a atuação do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo.
Mesmo matando a sede e a fome de multidões,
ele não arranjou emprego para ninguém.
Curou e restabeleceu a saúde de muitos que nele acreditaram,
mas não libertou ninguém das conseqüências de seus atos e escolhas.
Sabendo das dificuldades sociais da época,
não tentou resolver questões que somente poderiam ser transpostas
com o tempo e o amadurecimento daquele povo.
Em momento algum o vimos a prescrever fórmulas
para dar fim a desavenças de ordem familiar,
socioeconômica nem tampouco emocional,
recomendando meios de trazer o marido de volta ou fazer a pessoa amada
retornar aos braços de quem deseja.
Uma vez que ele é o Senhor de todos os espíritos
e não promoveu coisas nesse nível, como podemos nós, seus seguidores,
sequer cogitar realizá-las?
O que podemos deduzir das atitudes de Nosso Senhor, meus filhos(as),
é que, se ele não se dispôs a realizar tais demandas,
que na época certamente existiam,
é porque a natureza de seu trabalho era outra.
Mesmo debelando os males, prestando o socorro que podia,
ele não eximiu a população de enfrentar seus desafios.
Quem recebeu o pão voltou a ter fome e inevitavelmente
teve de trabalhar para suprir as próprias necessidades;
quem foi curado teve de aprender a valorizar a própria vida,
pois outras enfermidades viriam mais tarde;
quem Jesus ressuscitou dos mortos desencarnou mais adiante.
Em suma, o processo de reeducação a que conduzem os embates da vida
é tarefa de cada um.
Cristo Nosso Senhor apenas indicou a direção,
mas cabe a cada seguidor palmilhar o caminho com suas próprias pernas,
avançando com passos seguros e resolutos em seu aprendizado.
Através desse raciocínio, meu filho(a),
você poderá compreender a razão pela qual não há proveito
em recorrer aos espíritos para livrá-lo do sofrimento ou isentá-lo de dificuldades.
Esse é o caminho do crescimento na Terra,
e não há como fugir às próprias responsabilidades
ou transferir o destino das tribulações.
A dívida acorda sempre com o devedor, não há como se furtar a essa realidade.
***
Capítulo do livro Pai João, da Casa dos Espíritos Editora.
(livro Alforria reeditado)
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