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sábado, 8 de janeiro de 2011

Tetralogia do Amor



Ato I
Vinho e Vida


Em que o poeta confessa
perplexidade e inquietação
ante ao enigma e às
incertezas da vida mas,
oscilando entre o pessimismo
e o otimisto,
abraça finalmente a fé
no que há de vir.


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Decorre a vida, longa, neste mundo,
cheia de dores e de mil quimeras.
Amores, desventuras e um profundo
não saber o que vai n´outras esferas.


Chego ao morno portal das novas eras
dos cinquent´anos o viver fecundo.
Procuro em vão por um amor deveras
e encontro apenas desalento fundo.


Mas como desditar por isto a vida
se o próprio leito da mordaz ferida
tem sempre a gurgitar a cicatriz?


Ao vinho se recorre, velho amigo,
e, embora o travo amargo, eu bebo e sigo
à sã procura do que eu sempre quis.


(Ernane Gusmão)


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Ato II
O Sabiá Luminoso


O poeta sente a mensagem da natureza
e no êxtase de um estado hipnagógico
constrói o sonho da felicidade eterna
na metáfora de um pássaro luminoso.


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Sonhei...ou não sonhei?...não sei bem como
ouvi um sabiá cantar lá fora.
Cada viro da flauta era um pomo
cheio de luz, mas de uma luz sonora.
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Seguí-o, tão furtivo qual gnomo,
olhando-o entre as folhas, sob a aurora.
Tinha os risos alegres de um Rei Momo
e todos os encantos de Pandora.
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No véu crepuscular da madrugada
entre o sono e a vigília embotada
viví esse turdídeo luminoso.
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E desde então, qual felizardo amante,
meu despertar é um festim bacante
entre flautas de luz e sons de gôzo.
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(Ernane Gusmão)
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Ato III
Licor de Anis
O poeta deixa-se enlevar pela embriaguez
dos sentidos
e descobre o verdadeiro amor
na image real de uma mulher.
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Licor de anis, azul embriagante,
a cada gole meus desejos trais:
- o vulto da singela e doce amante,
fluídos perfumes, densas espirais.
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Eu sorvo a tona desse anil bacante
e me inebrio em delírios tais;
ouço o murmúrio dela, soluçante,
em sintonia com mudos ais.
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A timidez me prende, relutante,
o coração reclama: - Segue avante,
por que não quebras o temor e vais?
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E, quêdo embora, bafejou-me a graça:
- Licor de anis, sumiu da minha taça,
mas ela...dos meus olhos...nunca mais!...
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(Ernane Gusmão)
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Ato IV
O Bem-te-vi
Em que o poeta ama intensamente a alguém e,
sem perder o contato com a natureza, ouve, desnudo
com sua amante, a música do universo figurada na
simploriedade do canto de um Bem-te-vi.
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A suavidade anil do morno leito
se abre para o azul do nosso amor
e me recebe inteiro quando deito
ao lado do teu corpo e teu calor.
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Nos enroscamos...beijos cobrem o peito,
eu me derramo sobre o teu pudor;
às mil carícias de tua mão afeito,
deixo me levem para onde fôr.
**
Nós nos julgamos longe dos olhares
das águas, terra, e também dos ares
...mas eis que a ave bem de nós sorri..
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Espreita entre amêndoas o rameiro,
estica os olhos, bico fofoqueiro,
pela janela grita: - Bem-te-vi!...
**
(Ernane Gusmão)

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