
"Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo.
Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto.
Mas um santo homem, a serviço de Deus,
buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo.
A serpente o atacou, desrespeitosa.
Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:
- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.
A víbora recolheu-se, envergonhada.
Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente.
Procurou os lugares habitados pelo homem,
como desejosa de reparar os antigos crimes.
Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então,
começaram a abusar dela.
Quando lhe identificaram a submissão absoluta,
homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas.
A infeliz recolheu-se à toca, desalentada.
Vivia aflita, medrosa, desanimada.
Eis, porém,
que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la.
Espantou-se, observando tamanha ruína.
A serpente contou-lhe, então, a história amargurada.
Desejava ser boa, afável e carinhosa,
mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na.
O sábio pensou, pensou e respondeu após ouví-la:
- Mas, minha irmã, houve engano de tua parte.
Aconselhei-te a não morderes ninguém,
a não praticares o assassínio e a perseguição,
mas não te disse que evitasses de assustar os maus.
Não ataque as criaturas de Deus,
nossas irmãs no mesmo caminho da vida,
mas defende a tua cooperação na obra do Senhor.
Não mordas, nem firas,
mas é preciso manter o perverso a distância,
mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos."
Do livro "OS MENSAGEIROS", cap.20
- André Luiz/Chico Xavier
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